Quarta, 27 de Agosto de 2025
38°

Tempo limpo

Colíder, MT

Tecnologia Tecnologia

Inteligência artificial remodela práticas jornalísticas

A adoção da inteligência artificial no jornalismo tem redefinido fluxos de produção e estratégias de distribuição de conteúdo, segundo levantamento...

27/08/2025 às 08h50 Atualizada em 27/08/2025 às 09h14
Por: Redação Fonte: Agência Dino
Compartilhe:
ChatGPT
ChatGPT

A incorporação de inteligência artificial (IA) no jornalismo está promovendo transformações significativas, impactando desde a forma como as notícias são produzidas até a maneira como são distribuídas. Essa tecnologia, em constante evolução, tem representado um instrumento valioso para a automação de tarefas editoriais, potencializando a eficiência em redações ao redor do mundo. De acordo com levantamento do Reuters Institute for the Study of Journalism (2024), 56% dos respondentes dizem que já estão usando IA de alguma forma para apoiar a produção ou distribuição de conteúdo, e outras 26% planejam implementá-la em breve.

Entre suas aplicações, a IA é utilizada para curadoria e análise de grandes volumes de dados, automatização de sinopses e identificação de tendências emergentes. Algoritmos programados para filtrar informações com precisão e ferramentas de análise de dados fornecem subsídios valiosos para reportagens investigativas, aumentando a velocidade e a profundidade da apuração. Tecnologias como modelos de linguagem, APIs de vídeo e sistemas de aprendizado de máquina são aplicadas para gerar sinopses, prever pautas e estruturar fluxos editoriais completos, reduzindo prazos de produção e ampliando a capacidade de distribuição.

Apesar dos avanços proporcionados, o emprego de IA no processo editorial suscita debates éticos e editoriais. Questões sobre a confiabilidade e a transparência das informações geradas por algoritmos são centrais, como atesta um estudo do Nieman Lab, que destaca a necessidade de práticas que assegurem a qualidade e a integridade das notícias. A revisão humana permanece crucial para validar o conteúdo automatizado e garantir que violações éticas sejam evitadas. O Global Investigative Journalism Network (GIJN), parceiro da Associação de Jornalismo Investigativo (IRE), também alerta para os riscos relacionados à curadoria de fontes e à atribuição de autoria em contextos de desinformação digital, conforme detalhado no recurso "Investigating Digital Threats: Disinformation".

A adoção de IA não se restringe a grandes veículos. Dados recentes demonstram que editoras independentes e tradicionais estão integrando essa tecnologia, especialmente a IA generativa, para otimizar a produção de conteúdo e operacionalizar atividades de forma automatizada, em busca de competitividade no mercado digital, conforme discute o artigo "Inteligência Artificial no Mercado Editorial: Possibilidades e desafios éticos" da FGV (2024). Um estudo da WAN-IFRA (2023) apresenta princípios globais para a inteligência artificial, desenvolvidos em conjunto com organizações de publicação e jornalismo ao redor do mundo, que fornecem orientação para o desenvolvimento, implantação e regulação de sistemas de IA, garantindo oportunidades de negócios e inovação dentro de um framework ético e responsável.

Entre os exemplos práticos do uso da IA no jornalismo está o canal e portal Tecnologia Portuária, que conta com 57 mil inscritos no YouTube e adota agentes de IA para automatizar a criação de sinopses de vídeos publicados nos canais Tecnologia Portuária e Portcast. A mesma estrutura automatizada é responsável por gerar publicações no portal, otimizadas para motores de busca e organizadas por temas. O uso de IA no portal permite atualizações em tempo real, contribuindo para manter os usuários informados de maneira contínua e com menor dependência de fluxos manuais.

Hellen Xavier, apresentadora do canal, comenta: "No TP usamos bastante a IA, que nos ajuda não só a escrever os roteiros do nosso jeitinho, mas também a obter dados e insights com base no nosso próprio histórico. É como um assistente pessoal e nos ajuda a ganhar muito tempo."

Outro projeto que integra inteligência artificial à sua estrutura editorial é o Desbugados, programa ao vivo voltado à cobertura de notícias do universo tecnológico, que já acumula mais de 17 mil inscritos no YouTube. A estrutura do programa conta com múltiplos agentes de IA que atuam em etapas distintas da produção. Um deles prospecta tendências e mapeia os acontecimentos. Outro, propõe pautas editoriais com base em dados de múltiplas fontes. Múltiplos agentes com estilo e personalidade configuráveis redigem as matérias conforme o planejamento editorial aprovado pela equipe. Há ainda agentes responsáveis por revisão, publicação automatizada e extração de sinopses de vídeos extraídos via API do YouTube. As sinopses geradas são publicadas diretamente no portal de notícias do próprio Desbugados, enquanto que as notícias passam ainda por uma etapa final de revisão humana antes da publicação. Os apresentadores contam com uma interface para selecionar conteúdos a serem divulgados nas transmissões, enquanto outro agente gera listas com curiosidades e insights que alimentam o programa ao vivo. Essa automação distribuída permite maior agilidade na entrega, consistência editorial e adaptação dinâmica aos temas em alta nas redes.

Ricardo Pupo, diretor-executivo da T2S e um dos apresentadores do Desbugados, comenta: "Temos múltiplos agentes atuando em conjunto, desde a prospecção de tendências até a redação final e publicação. Isso tem contribuído significativamente para a fluidez e a organização do conteúdo que entregamos semanalmente. Tanto o portal Tecnologia Portuária quanto o portal Desbugados fazem parte dessa nova etapa da produção editorial. A presença de ferramentas de IA nesses contextos tem sido observada como um elemento de transformação no setor editorial, em que automação e curadoria humana coexistem nos processos de produção, com foco em otimização de fluxos, gestão de conteúdos e estratégias de distribuição em ambientes digitais. A sua integração nos fluxos produtivos aponta para um futuro em que a automação pode reconfigurar o panorama midiático, exigindo uma reavaliação contínua das práticas editoriais e da relação entre tecnologia e jornalismo."

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários