Pesquisas no campo da neurociência revelam que o cérebro funciona como uma máquina preditiva, um termo usado pelos cientistas para descrever sua capacidade de antecipar o que acontecerá a seguir. Para isso, ele se apoia em experiências e informações armazenadas ao longo da vida, criando uma espécie de modelo interno do mundo. Esse modelo o ajuda a interpretar rapidamente o que os sentidos captam, permitindo uma adaptação mais ágil ao ambiente e evitando o desgaste excessivo da atenção e da memória. Porém, esse mecanismo automático também favorece vieses e fortalece padrões mentais inconscientes que limitam a qualidade das decisões.
Para fazer essas previsões, o cérebro precisa utilizar um tipo de memória temporária, chamada de memória de trabalho. É nesse espaço mental que ele mantém e organiza, por um curto período de tempo, as informações necessárias para tomar decisões. Por exemplo, quando o indivíduo memoriza número de telefone apenas até discar, essa informação fica na mesa até ser utilizada e depois é descartada. Esse espaço é limitado, ou seja, só tem a capacidade de guardar poucas coisas por vez e, quando está em sobrecarga, acaba dificultando a possibilidade de pensar com clareza e tomar boas decisões.
Nesse contexto, destaca-se a hipótese do marcador somático, proposta pelo neurocientista Antonio Damasio. Segundo essa teoria, o corpo envia sinais físicos ligados às emoções, como um aperto no estômago ou a sensação de alívio, que aparecem antes mesmo da reflexão consciente, e esses sinais ajudam a orientar decisões, atuando como atalhos emocionais que indicam, com base em experiências passadas, quais caminhos podem ser mais seguros ou arriscados.
Um estudo intitulado Components of working memory and somatic markers in decision making investigou a relação entre os marcadores emocionais e a memória de trabalho. Os resultados mostraram que, quando esse espaço mental está sobrecarregado, ou seja, quando o cérebro precisa lidar com muitas informações ao mesmo tempo, a capacidade de formar esses marcadores somáticos diminui, prejudicando assim a qualidade das decisões. Na prática, isso significa que o excesso de estímulos pode impedir o indivíduo de perceber os sinais emocionais que ajudariam a evitar escolhas impulsivas ou repetitivas.
Esse tipo de interferência cognitiva mencionada no estudo auxilia na explicação do porquê padrões mentais se repetem mesmo diante de novas oportunidades de escolha. Durante suas imersões e treinamentos, André Kaercher, especialista em desenvolvimento humano, relata que muitos participantes se surpreendem ao descobrir que parte significativa de suas limitações provém de padrões mentais pouco questionados. Segundo ele, o reconhecimento dessas limitações internas é fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. "Padrões mentais podem definir escolhas e travar sucesso, mesmo quando há desejo de mudança", afirma.
Entre os dias 5 e 7 de dezembro de 2025, São Paulo recebe o Arenna, evento que traz como um de seus focos o pilar “Neurociência & Comportamento”. A proposta é explorar, a partir de evidências científicas e práticas, como crenças inconscientes podem influenciar decisões e limitar o potencial pessoal e profissional. O encontro pretende ainda apresentar caminhos para a transformação dessas narrativas internas.
Para saber mais, basta acessar: Instagram
Mín. 20° Máx. 33°